As expedições de coleta devem ser cuidadosamente planejadas, visando o mínimo de imprevistos no processo de aquisição do material botânico como, por exemplo, o esquecimento de materiais de campo.
Evite a coleta em dias chuvosos, bem como a coleta de plantas terrestres molhadas que facilitam a formação de mofo (fungos oportunistas que se instalam quando o substrato/ambiente está úmido).
Observe o material botânico fértil, ou seja, que possuem flores e/ou frutos, ou soros (amostras estéreis são mais difíceis de serem identificadas e não são aceitas na coleção da maioria dos herbários). Anote as informações da localidade e do indivíduo a ser coletado na sua caderneta de campo. Para dar celeridade a esse processo, tire fotos antes da coleta, assim esses dados podem ser preenchidos posteriormente. Você também pode optar por escrever esses dados no jornal da coleta.
Ramos baixos devem ser cortados utilizando-se tesouras de poda. Não quebre os ramos manualmente, pois pode causar danos à amostra ou perda de frutos ou flores com o movimento brusco de coleta. Os ramos em partes mais altas devem ser obtidos cortando-se os galhos com o uso do podão. As espécies arbóreas da Amazônia são geralmente muito altas, incrementando grande dificuldade na hora de coletar. Algumas podem ser alcançadas com o podão, porém a maioria precisa ser escalada para conseguir coletar uma amostra, muitas vezes ainda com o auxílio do podão. A escalada é feita por uma pessoa treinada, utilizando peconha e equipamento de escalada.
Para melhor conservação de algumas características naturais das amostras, aconselha-se que o material seja prensado logo após ser coletado, com a utilização de prensas de campo. As principais vantagens dessa alternativa é a conservação de todas as estruturas da planta e a possibilidade de posteriormente organizá-las da melhor maneira na prensa definitiva. Porém, muitas vezes isso não é possível. Nesse caso, os ramos da mesma amostra devem ser juntados com uma fita crepe e identificado com as iniciais e número do coletor e colocá-las em sacos plásticos grandes para que sejam prensadas tão logo quanto possível.
Algumas plantas possuem estruturas muito sensíveis que podem se soltar ou danificar quando misturadas com outras amostras no saco. Uma solução para essas plantas mais delicadas é a utilização de sacos menores e individuais (ex. sacos de pão ou sacos de papel-manteiga). Assim elas não se misturam com outras amostras e não tem suas estruturas mais delicadas danificadas.
A amostra deve conter, sempre que possível, folhas, flores, frutos e/ou sementes. Durante a coleta de material botânico, sempre observar se as flores, frutos ou sementes pertencem realmente ao indivíduo onde foram retirados os ramos. Deve-se evitar a coleta de material que esteja solto no chão, pois podem não pertencer ao mesmo indivíduo. É importante lembrar-se de coletar a planta inteira, no caso de ervas. Evitar coletar apenas flores ou folhas sem os ramos completos ou danificados por fungos ou insetos. O tamanho adequado dos ramos deve ser em média de 30-40 cm (o tamanho que caberá numa exsicata).
Folhas ou estruturas muito grandes poderão ser dobradas de modo que se conservem inteiras na exsicata. Algumas plantas com folhas compostas possuem folíolos grandes, que podem ser confundidos com folhas. Nesses casos deve-se ter um cuidado especial, pois folhas incompletas dificultam a identificação. Frutos muito grandes, cuja prensagem é difícil, e frutos carnosos devem ser colocados inteiros em sacos à parte, conservando-se inteiros para a carpoteca.
As flores mais sensíveis podem ser acondicionadas em frascos de plástico com tampa vedável contendo álcool a 70%. Estes frascos devem conter a mesma identificação da amostra a que as flores pertencem. Nunca se deve dar números de coletor diferentes para uma mesma coleta de um mesmo indivíduo.
Aconselha-se coletar pelo menos cinco amostras do mesmo indivíduo ou, se não for suficiente, de indivíduos iguais e próximos. Dessas cinco, uma será destinada a depósito no herbário da instituição vinculada, e as outras duplicatas serão distribuídas em herbários parceiros e/ou destinada a especialistas para futura identificação ou confirmação da identificação.
MATERIAL DE CAMPO
Pode variar de acordo com o material a ser coletado, mas de um modo geral são os seguintes:
Caderneta de campo e/ou fichas de campo; Lápis ou caneta a prova d’água (nanquim); borracha;
Fita métrica, trena, fita diamétrica;
Fita gomada, fita crepe, grampeador;
Barbante, fita de ráfia;
Frascos plásticos, de preferência;
Solução de preservação ou meio líquido preservativo;
Lupa de mão;
Bússola; GPS;
Máquina fotográfica com acessórios.
"Peconha" ou outro instrumento para escalada;
Terçado, canivete, faca pequena;
Tesoura de poda; podão com cabo extensor; serra pequena; pá pequena;
Sacos plásticos (de diferentes tamanhos), sacos de papel (de vários tamanhos);
Estufa de campo; Prensas de madeira; Jornais, Papelões (de tamanho padronizado); e
Material pessoal: Botas com caneleira ou galochas; calça comprida; camisa de mangas compridas; protetor solar; repelente; mochila; capa de chuva; chapéu; cantil.
NÚMERO DO COLETOR
É a numeração sequencial de cada pessoa. Ele deve ser anotado na amostra e na caderneta de campo. Isso vai permitir que as informações anotadas na caderneta de campo para cada espécie sejam correlacionadas com a amostra relativa àquela espécie.
Indivíduos diferentes devem receber números de coleta diferentes, a não ser que sejam ervas que notadamente pertençam a mesma população.
Coletas do mesmo indivíduo em épocas diferentes também devem receber números de coleta diferentes.
EXSICATA
Exsicata é uma amostra de planta prensada e seca, fixada em uma cartolina de tamanho padrão e acompanhadas de uma etiqueta contendo informações sobre o vegetal e o local de coleta, para fins de estudo botânico.
CADERNETA DE CAMPO
A caderneta de campo é um tipo de diário onde todas as informações referentes às coletas realizadas são anotadas. Estas anotações devem ser feitas no momento da coleta da amostra e são tão importantes quanto o exemplar em si. Após retornar das atividades de campo, é pela caderneta de campo que as informações obtidas junto com as amostras são relidas e informatizadas, pois essas informações farão parte das etiquetas dos espécimes.
É importante fazer todas as anotações a lápis, pois a tinta de caneta pode borrar e toda informação pode ser perdida. Atualmente são vendidos cadernos com papéis especiais e canetas a prova d’água que podem escrever mesmo quando molhados.
Durante o trabalho em campo é importante guardar a caderneta de campo em um saco plástico para protegê-la da chuva e de eventuais quedas na água. É aconselhável ter uma página de rosto indicando o nome do proprietário, instituição onde trabalha e alguns meios para contatá-lo em caso de perda.
As informações que devem ser anotadas na caderneta de campo podem ser divididas em duas categorias:
1. Cabeçalho com as informações da localidade (aplica-se a todas as coletas feitas em um mesmo lugar por um ou mais dias):
País, Estado, Município;
Localidade (ex. Reserva Florestal Adolpho Ducke);
Data de coleta;
Coletores adicionais;
2. Informações de cada indivíduo coletado:
Número de coleta do coletor;
Identificação (família, gênero, espécie, nome popular);
Quantidade de duplicatas (principalmente se for unicata);
Coordenadas geográficas (contendo latitude, longitude e altitude - GPS);
Informações perdidas após desidratação:
Caracterização de habitat (terra firme, campinarana, campina, capoeira, várzea, igapó, mata de beira de rio);
Solo (arenoso, argiloso, areno-argiloso);
Hábito e forma de vida (erva, árvore, arvoreta, arbusto, liana, hemi-epífita, epífita, trepadeira, saprófita, parasita);
Altura da árvore (estimada em metros) x DAP (diâmetro a altura do peito em cm) ou CAP (circunferência a altura do peito em cm).
Altura do dossel (estimada em metros);
Inundação (terreno é inundado ou não);
Presença de glândulas ou cerosidade branca na face abaxial da folha;
Cor das estruturas (flores, frutos, tricomas);
Odor: presença ou ausência, se é agradável ou desagradável, intensidade do cheiro (leve, médio e intenso), em que parte da planta em que o cheiro ocorre (folha, tronco, ramo, raiz) e o que o cheiro te lembra;
Exsudato (látex, resina ou seiva): presença ou ausência, quantidade (pouco, médio ou muito) e cor;
Características da casca do tronco (presença de lenticelas, ritidoma fissurado, reticulado, etc);
Características da base do tronco (presença de raiz escora, sapopema, base digitada, base reta, etc);
Abundância;
Presença de visitantes/polinizadores;
CONVERSÃO DE CAP PARA DAP - DAP (diâmetro) = CAP (perímetro)/π (3,1416)
Segundo Condit (1998) o local padrão para a medida do CAP ou DAD é a 1,30m de altura.
QUANTO AOS ACIDENTES DO TERRENO
A - Se o indivíduo estiver reta em local com terreno inclinado a medida deve ser tomada do local mais alto do terreno.
B - Se o indivíduo e o terreno estiverem inclinados medida deve ser tomada do local mais alto do terreno.
C - Se o indivíduo estiver inclinado em local com terreno reto medida deve ser tomada do local mais alto do terreno.
QUANTO AOS ACIDENTES DO TRONCO
D - Se a árvore possui injúria, ferimento, nódulos ou qualquer tipo de deformidade na altura de 1.30 m do solo. Medir o diâmetro na parte mais cilíndrica do caule, acima de 1.30 m. Anotar o novo ponto da medida (POM).
E - Se a árvore possui bifurcação a 1.30 m do solo. Medir o diâmetro 20 cm abaixo da bifurcação. Anotar o novo POM .
F - Se a árvore possui bifurcação abaixo de 1.30 m do solo. Medir o diâmetro de cada ramo separadamente a 1.30 m do solo.
G e H - Se a árvore possui sapopemas, com raiz escora ou com raízes adventícia na altura de 1.30 m do solo. Medir o diâmetro na parte mais cilíndrica do caule, no mínimo 1 m acima das raízes. Anotar o novo POM.
I - Se a árvore está quebrada a 1.30 m do solo com rebroto. Medir o diâmetro 20 cm abaixo do ponto da quebra. Anotar o novo POM e a condição da árvore.
Floresta de terra firme: ocorrerem em áreas não sujeitas a inundações. Apresentam uma grande variedade de fisionomias (Floresta primária -platô, vertente, baixio; capoeira - baixa, alta; campo; campinarana; campina);
Várzea: são as vegetações que ocorrem ao longo dos rios de água branca, são periodicamente inundadas e possuem grande quantidade de sedimentos em suspensão originados dos Andes. A deposição de sedimentos e de matéria orgânica submersa torna os solos da várzea naturalmente mais férteis (Prance, 1980);
Igapó: são as vegetações que ocorrem ao longo dos rios de águas pretas ou claras, são periodicamente inundadas e carregam baixa quantidade de sedimentos e nutrientes (Prance, 1980).
Argiloso: formado por grãos de areia muito pequenos e bem compactados, ele não deixa espaço entre os grãos de areia, e por isso se torna impermeável, ou seja, difícil da água se infiltrar. É um solo muito rico em nutrientes, e por isso ele pode ser muito bom para a prática de atividades agrícolas.
Arenoso: formado por uma grande quantidade de areia, é um tipo de solo bastante permeável, pois a água entra nele com muita facilidade, se infiltrando pelos espaços que ficam entre os grãos da areia. Normalmente é um solo pobre em nutrientes, por esse motivo é difícil você ver muitas plantas em solos arenosos.
Argilo-arenoso: solo cuja sua granulometria é formada por argila e areia, maior quantidade de argila e menos de areia
Humoso: também conhecido como terra preta, o solo humoso é muito fértil, pois é feito em sua grande parte de matéria orgânica em decomposição, que funciona como um adubo para as plantas.
Forma geral de uma planta, tendo em conta fatores como a duração do caule, o padrão de ramificação, o desenvolvimento e a textura:
Arbusto é um vegetal lenhoso, que se ramifica desde a base, e portanto, sem um tronco preponderante.
Arvoreta é um vegetal lenhoso, que se ramifica no ápice, formando uma pequena copa e cujo porte não ultrapassa 5 metros.
Árvore apresenta-se lenhosa, de porte avantajado (acima de 5 metros), provida de um tronco que se ramifica na parte superior formando uma copa; a parte do caule desde sua base até o começo das ramificações chama-se fuste.
Cipós (herbáceas) ou Lianas (lenhosas), são plantas trepadeiras ou sarmentosas/ rastejantes.
Ervas têm um menor grau de lignificação. A caracterização das formas herbáceas e subarbustivas é o proposto por WHITTAKER (1975), baseado em formas biológicas:
Subarbusto ereto: planta lenhosa somente na base, a partir da qual em geral ramifica-se, com a maior parte dos ramos não ou pouco lignificados, raramente ultrapassando 1,5 m de altura.
Erva ereta: planta não lenhosa em geral com até 50 cm de altura, com ramos de crescimento perpendiculares ou oblíquos ao substrato, geralmente bem visíveis. Ex.: várias Asteraceae (Adenostema sp) e Fabaceae (Desmodium sp).
Erva bulbosa: planta com caule hipógeo reduzido, geralmente descrito morfologicamente como do tipo “bulbo”, e partes aéreas que muitas vezes fenecem em um determinado período do ano. Ex.: várias Liliaceae e Amaryllidaceae (Hipoxis decumbens).
Erva reptante/rastejante/sarmentosa: caules herbáceos rasteiros que utilizam o substrato como apoio para desenvolvimento, enraizando-se esporadicamente pelos nós, eventualmente recobertos por serapilheira. Ex.: Algumas espécies de Commelinaceae.
Erva rizomatosa: planta com caule rasteiro, frequentemente recoberto por solo e/ou serapilheira, enraizando-se praticamente ao longo de toda sua extensão. Ex.: várias Poaceae como Oplismenus sp. e Ichnahthus sp.
Erva rosulada/roseta: planta com folhas agrupadas na extremidade de um caule curto não bulboso, formando caules aéreos (escapo) na floração. Ex.: Bromeliaceae, Eryngium sp.
Erva cespitosa: plantas que crescem lançando novos brotos ou caules de maneira aglomerada, geralmente formando uma touceiras, com gemas geralmente protegidas pelas bainhas das folhas senescentes. Ex.: Muitas Poaceae e Cyperaceae.
Pedaços de folhas podem ser coletadas em sílica-gel, para posteriores análises moleculares. A preservação de amostras em sílica-gel conserva o material vegetal de maneira prática, pois tecidos secos são menos suscetíveis à degradação química ou enzimática, preservando desta forma o DNA com qualidade.
Procedimentos:
Escolha folhas saudáveis (sem fungos ou parasitas). Rasgue as folhas manualmente (sem o auxílio de tesouras, para evitar a contaminação com o DNA de outras amostras) a fim de caberem no pacote que separará as amostras (pequenos envelopes). Evite a parte das nervuras, que possuem muita água e pouco material genético.
Coloque os pacotes com as amostras em um recipiente contendo sílica. A sílica absorve a umidade, então quanto mais hermético for o recipiente com a sílica, melhor.
Anote as iniciais do coletor, o número da coleta, a família e a data no pacote, sempre na mesma posição, para facilitar a procura.
Após secos, organize os envelopes por coletor e número de coleta, embale a vácuo e acondicione preferencialmente em freezer.
Procedimentos:
Escolha folhas saudáveis (sem fungos ou parasitas). Rasgue as folhas manualmente (sem o auxílio de tesouras, para evitar a contaminação com o DNA de outras amostras) a fim de caberem no pacote que separará as amostras (pequenos envelopes). Evite a parte das nervuras, que possuem muita água e pouco material genético.
Coloque os pacotes com as amostras em um recipiente contendo sílica. A sílica absorve a umidade, então quanto mais hermético for o recipiente com a sílica, melhor.